Como consequência da doutrina Monroe, que estabelecia aos Estados Unidos o direito exclusivo de intervenções militares estrangeiras nos países americanos, bem como a impossibilidade da criação de novas colônias neste território, a América Latina, junto com o Canadá posteriormente, ficou sendo seu ponto mais nevrálgico, o local onde tem o controle político e militar mais profundo e influente, base fundamental de seu império. Aqui consolida sua força e mantém o domínio mais forte, derrubando e levantando todo e qualquer governo ou orientação política que lhe seja de seu interesse.
Embora domine quase que completamente a América, os EUA possuem algumas relações mais delicadas e mais dominadoras com alguns países em particular. Esta regra se aplica muito a América Central, com destaque para Nicarágua e Cuba, onde o tio Sam fez inúmeras e ferozes intervenções, lhes dominando com mais força. Na América do Sul, por outro lado, foi isto um pouco mais fraco por bastante tempo, tendo se intensificado na Operação Condor. Não que fosse ausente, mas não era tão fortemente intervencionista, tendo relações um pouco diferente com os países sul-americanos do que tinha com os centro americanos e o México. Porém, um país teve sempre mais vigilância aqui nesta parte do continente: a Venezuela.
Sendo uma antiga capitania que se desprendeu da Grã Colômbia, foi um país que passou a ter uma maior importância e cobiça em cima de si após a descoberta de petróleo, a mais abundante do mundo. Sobre este petróleo, foi muito vigiada pelos EUA, que este material queria. A elite venezuelana, em parceria, sempre ficou muito em cima deste petróleo, fazendo dele o grande recurso econômico do país. Usava como base para manter seu poder, concentrando nele a economia. Especialmente a partir da década de 1930, firmou-se nele como seu recurso econômico, basicamente fazendo toda a economia em torno dele. E assim tendo baixa produção interna, tanto na agropecuária quanto na indústria.
Basicamente vendia petróleo para comprar comida e boa parte dos recursos e bens que eram utilizados no país. De lá para cá tal estrutura econômica muito pouco se alterou, tendo sido mantida esta lógica. Por ser um produto valioso, em momentos de valorização e de amistosas relações políticas mantinha certa estrutura interno. Mas sempre foi uma elite muito opulenta, por causa do valor do produto, convivendo com uma ampla camada miserável de população. E ao longo do século XX, usou de várias ditaduras e golpes de estado para se manter no poder, por vezes fazendo eleições entre partidos sem quaisquer diferenças ideológicas.
Em 1999, após décadas desta lógica, e uma frustrada tentativa de golpe em 1993, o militar Hugo Chávez se elegeu presidente do país e começou nele uma profunda mudança, em que ficou conhecida como chavismo, baseado na política do militar. Os EUA, junto com a elite, o detestaram de cara, já impondo sabotagens e tentativas de destituição. Em si, embora se intitulasse como socialismo do século XXI, pouco havia de um socialismo real ou profundo nela, sendo muito mais um projeto de estado de bem estar social levado a maiores consequências. Pois nunca foi abolida no país a propriedade privada, nem se buscou uma planificação econômica, mas apenas intervenções governamentais na economia para se gerar resultados diferentes.
Sendo um grande político, talentoso e arguto para estas questões, além de ter tido uma boa valorização do petróleo nos anos de seu governo, Chávez conseguiu implantar várias reformas sociais e melhorar significativamente a qualidade de vida da população do país. Porém, não conseguiu mudar o mais nevrálgico ponto, que era a dependência do petróleo e a concentração da economia neste recurso. Não conseguiu desenvolver a agropecuária nem a indústria venezuelana, continuando a vender petróleo para comprar comida. O que manteve fragilizada a economia nacional, dependendo de boas relações que estavam agora esfriadas por causa da antipatia dos EUA por ele.
Devido às suas habilidades, e alguns bons ventos, conseguiu segurar bem a situação até sua morte, em 2013. Ali as coisas começaram a se deteriorar. Sempre chamou a revolução de 1999 como uma revolução em andamento, a qual conseguiu fazer caminhar. Porém escolheu como sucessor Nicolas Maduro, um dos homens de sua confiança. Que, sem qualquer talento político foi dilapidando as conquistas da revolução bolivariana. Além de falta de capacidade, também já teve ventos mais desfavoráveis, ficando muitas vezes com problemas de abastecimento e um forte aumento da pobreza, em escassezes severas muitas vezes enfrentadas.
Por assim fazer, já tendo bem menos capacidade, foi angariando uma antipatia de parte do povo venezuelano. Além de ter feito muitas jogadas com a elite petroleiras, mantendo seus interesses, com ela jogando e não modificando a estrutura econômica do país. E ter tido ruins momentos desde então. Foi mantendo o poder, ganhando algumas eleições, mas sempre em posição delicada, com a ideia de golpe sempre pensada pelos Estados Unidos. Novamente agora se manteve se reelegeu novamente.
Certamente não é um bom político, mas sua derrubada apenas entregaria aos EUA o total domínio sob o país e seu petróleo, o dominando completamente, tirando a força nacional. E não melhorando a qualidade de vida ou os problemas estruturais do país, apenas explorando e mantendo o povo em suas condições ruins. Como país, falta-lhe um maior projeto, uma diversificação econômica. Apenas assim poderia ter sua pobreza reduzida. Ainda que Maduro seja incompetente e se mantenha no poder com seus decretos e jogadas políticas, um completo domínio estrangeiro apenas enfraqueceria mais e aumentaria suas doenças econômicas.
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