A frase mais importante do espiritismo é a sua máxima de que “Fora da caridade, não há salvação”. Um significado bastante profundo. Com um valor social visível, pois a noção de caridade implica não apenas fazer ações caridosas, normalmente associadas a doações, associada em uma ideia de se dar parte do que se tem para aquele que não o tem. Embora a doação seja de fato caridade, ela é apenas a parte mais superficial, mais baixa desta. Pois mais do que estas ações é muito importante um senso de caridade, a convicção e a sensibilidade direta para estas mesmas questões, para se entender a necessidade da caridade e o que condiciona e fazem necessárias ações de doação.
Certamente tem um peso e um forte valor moral a frase, pois o sentimento e prática da caridade condicionam uma forma de ser que põe o espírito para enxergar, ponderar, sensibilizar e intervir nos problemas sociais. E esta moralidade impõe para tais verbos uma seriedade e um comprometimento no sentido de se estar atento aos objetivos e ideias propostas para tais situações e enfrentamentos, sempre vendo o que está sendo feito, quem o faz, e o que surgirá daquilo, em termos de materialidade e mudanças concretas. Pois uma ação e mobilização só têm sucesso quando seus objetivos são de fato atingidos, ou se enxerga um caminho, uma estruturação para que ocorra. Tal moralidade e seriedade exigem do caridoso que se ponha nela, entenda como as coisas são da maneira que são, e de que maneira vão ser transformadas.
Um fator fundamental ao cultivar este tipo de convicção é a constante observação das desigualdades e das estruturas sociais que geram as desigualdades e a pobreza que faz com que poucos tenham muito e muitos tenham pouco, quando não nada. Neste sentido, a caridade não perde seu valor, porém ganha uma nova e importante dimensão, pois está atrelada a uma profunda mudança social, que visa encarar tais problemas frontalmente. Que dá valor para a frase do beato Dom Hélder Câmara: “Quando dou pão para os pobres me chamam de santo, quando pergunto por que são pobres me chamam de comunista.” Aqui Helder evoca o sentimento de beleza que a caridade provoca quando é feita de maneira isolada e despolitizada, em contraponto ao questionamento de porque há pobreza, que gera a necessidade da caridade. O fator fundamental é a maneira política econômica desigual em que são organizadas as sociedades capitalistas, em seus diversos regionalismos e particularidades locais, associadas com sua lógica central.
Nesta realidade a caridade se mostra como este enxugador de gelo moral, algo feito para gerar uma positiva imagem, algo que acalma e passa uma boa ideia. Ela apenas enxuga gelo, pois não ataca o problema em sua centralidade, mas apenas faz algumas pequenas ações que fazem melhoras pontuais, mas mantém as estruturas como são fazendo com que voltem os problemas em seguida. Isto não tira da caridade seu valor moral, nem a sensibilidade que ela pode eventualmente gerar, porém lhe dá um valor pequeno e insuficiente, que não consegue superar os problemas. Como sistema, o capitalismo não supera suas próprias contradições, sempre mantendo seus problemas mais básicos. O que exige uma superação. Se for pelo socialismo, distributismo, o raio que o parta é secundário. O centro do problema é entender tais contradições e como serão resolvidas. Somente assim será possível uma real melhora social, que é uma salvação, e também um real aprimoramento dos espíritos encarnados e desencarnados.
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