Já de muito antes da codificação espírita, feita por Kardec no século XIX, se falava de cidades melhores, onde haveria leis e condutas melhores do que aquelas feitas pelos humanos na terra, nas encarnações. Um dos primeiros a trazer esse conceito foi Santo Agostinho, que opôs a Cidade dos Homens a Cidade de Deus. Nesta oposição estaria embutida tanto a imperfeição humana quanto a perfeição divina. No qual, por sua fraqueza, pequenez e inferioridade perante Deus, expulsos do Paraíso por tais imperfeições, não conseguiriam igualar e elaborar tal cidade no mundo, ficando assim apenas versões muito ruins e imperfeitas, tal como são os seres humanos.
Ao longo do tempo, outros autores também refletiram sobre estas diferenças, trazendo novas ideias e conceitos, por vezes aproximando mais da realidade material humana e outras vezes falando de maneiras mais metafísicas. Através disto, várias ideias foram criadas e também trouxeram importantes visões e concepções sobre humanos e suas organizações. Podem ser citados o inglês Thomas Morus e o italiano Tommaso Di Campanella, bem como o espanhol Vasco de Quiroga. Os dois autores escreveram sobre cidades utópicas, com alguns problemas em alguns sentidos, mas em oposição às sociedades de seus tempos, trazendo soluções e contrapontos aos problemas sociais de então.
Nenhum deles propriamente conseguiu ir para além de alguns conceitos de Agostinho de Cidade de Deus, de espaço perfeito e divinamente conduzido. Pois este imaginou em um sentido bastante mais metafísico, indo o mais distante e perfeito que talvez conseguisse ou pudesse pensar, tendo pouco ou nenhum respaldo na materialidade. Como Deus consegue superar tudo aquilo que conhecemos ou pensamos, tal ideia não era impossível em um além, em um local onde houvesse mais coisas e ideias do que pode ser conhecida. Porém, enquanto ser humano, encarnado, existe diretamente uma necessidade de que se aprimore por aqui, para criar e permitir um bem comum, algo que não fazemos devidamente às nossas imperfeições. Porém, existe a capacidade de se mudar isto e de se aprimorar, bem como agir.
Pensando diretamente sobre o espiritismo, no entanto, a questão da cidade melhor, da oposição às nossas imperfeições veio do espiritismo brasileiro, mais especificamente de Chico Xavier. Que, através de André Luiz, descreveu a cidade de Nosso Lar, cidade espiritual acima do Rio de Janeiro, tendo outras acima de outras cidades, e que seria a primeira oposição tanto às sociedades encarnadas quanto ao Umbral, espaço de intenso sofrimento, muito pior que os locais onde vivem os encarnados. Nem Nosso Lar e nem as demais cidades celestiais espíritas são apenas o primeiro passo para além das zonas Umbralinas, tendo outros muitos e planetas para além, os maiores sendo habitados por Cristos, do qual já fomos visitados por Jesus.
Neste sentido e contexto, sempre podemos ver que a Cidade dos Homens, em suas diversas variações e formas, não conseguem vencer seus problemas, deixando os intensos sofrimentos e as vidas parciais, nos quais as pessoas não conseguem viver e seguir seus caminhos, ficando a mercê dos problemas e barreiras sociais. Porém, olhando para a Cidade de Deus e para Nosso Lar é possível mudar e aprimorar. Essencialmente uma questão de se ver o que temos de imperfeito, porque somos assim e o que podemos fazer.
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