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Revolução Farroupilha

Porque, num contexto de República, mesmo frágil, se via alguns processos.

22/09/2023 às 12h46 Atualizada em 22/09/2023 às 19h50
Por: Pedro Fagundes de Borba
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Carga de cavalaria Farroupilha(Guilherme Litran); Flickr
Carga de cavalaria Farroupilha(Guilherme Litran); Flickr

De caráter republicano e separatista, em algumas maneiras lembrando movimentos similares ocorridos no Brasil antes ou durante este período, a Revolução Farroupilha se consolidou como a data magna do Rio Grande do Sul. Muito disto começou pela questão republicana, levantada pelos Pica Paus a partir da década de 1880. Quando nacionalmente crescia a defesa da República, frente o cada vez mais limitado e engessado Império do Brasil, os líderes do Partido Republicano Rio Grandense (PRR) a resgataram da obscuridade em que se encontrava desde a assinatura do Tratado do Ponche Verde, que a pôs fim. A principal ideia era lembrar como um dos primeiros levantes republicanos do Brasil, fortalecendo o partido e o republicanismo no contexto da época.

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 Ali surgiu muito do culto e da importância que o movimento tem até hoje no estado, que foi aumentando e incorporando novos elementos com o tempo. Fortalecida bastante em seu centenário, 1935, com apoio do então presidente Getúlio Vargas. Como força gaúcha. Ganhou os contornos mais atuais, agregados com os antigos, com o surgimento dos Centros de Tradições Gaúchas (CTG) e do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) em 1948. Que incorporaram os elementos da cultura gauchesca, hábitos, custumes, roupas, comida e pensamentos com a Revolução.  Absorvendo e se apropriando de suas ideias e formas, ainda que de maneira já um tanto mais difusa. As somas destes elementos deram este contorno para tal movimento separatista, mais cultuado em seu estado do que são movimentos similares em seus respectivos estados.  

 Falando sobre a Revolução em si, foi um movimento que começou por um motivo e cresceu, levando a outros objetivos e motivos juntos. Surgiu como revolta de estancieiros pelo preço cobrado no imposto do charque rio-grandense, mais alto do que o cobrado do Uruguai e Argentina. Por esta situação, terminava que o Brasil comprava mais dos países vizinhos do que de sua própria província, enfraquecendo a economia interna. Revoltados com isto, os estancieiros, liderados por Bento Gonçalves e Antônio de Souza Netto iniciaram um movimento contra isto, que foi aumentando e tomando novos contornos. Contornos republicanos e separatistas. Se separar da monarquia brasileira para a criação de uma república.

Tal república, República Riograndense, foi pensada a partir de 20 de setembro de 1835 (dia do ano em que é comemorada a revolução) e proclamada em 11 de setembro de 1836. A qual tinha como inspirações fundamentais a Revolução Francesa, que deu o primeiro grande salto de republicanismo no mundo e a maçonaria, marcada por seus ideais de justiça e fraternidade. Seus grandes líderes sendo maçons, tendo proclamado a República Riograndense em uma loja maçônica, mantinham uma relação bastante próxima. Usavam eles o lema Liberdade, Igualdade, Humanidade, adaptado do lema francês. Então a ideia era a formação desta república, abolindo o imposto interno do charque, sendo assim cobrado um imposto internacional para o charque gaúcho, talvez similar ao do Uruguai e Argentina. Quando houve a reintegração ao Brasil, o imposto do charque baixou.

 Dentro disto, também havia uma promessa de libertação de negros escravos que lutassem com os Farrapos pela separação da província e fundação da República. O qual lutaram como lanceiros, os Lanceiros Negros. Durante o processo político e de guerra, esta questão e liberdade ficou em aberta, não culminando em liberdade. Com o tratado do Ponche Verde, como parte dele firmado entre o Duque de Caxias e David Canabarro. Firmava-se a reintegração da República como província brasileira, ficando dentro de suas leis e disposições. Como era uma monarquia carregada e afundada em trabalho escravo, ficou estabelecido que a libertação dos lanceiros não pudesse acontecer. Principalmente para não incentivar libertações em outras áreas do território. Culminando no Massacre de Porongos, local onde os lanceiros foram exterminados. Foi o mais feio evento da Revolução.   

Olhando para o movimento como um todo, vemos nele de fato uma primeira manifestação republicana, ainda que este não fosse o objetivo primordial. Porque, num contexto de República, mesmo frágil, se via alguns processos. Teve problemas e contradições, muitas bastante brasileiras em suas características, mas tinha um contexto e uma ação interessante, pelo valor republicano. Ainda que o RS, e qualquer outro estado nacional, não tenha força para ser um país autônomo, constituíram movimentos importantes neste período. Pelos ideais que colocou, e por alguns de seus líderes, permanece como algo importante de ser lembrado. Vemos muita coisa do Brasil e de suas questões e organizações ali. 

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